About: Multidisciplinary space to develop young artists from Brasil based on mentoring, collaborative projects and art residency.

Fenda
São Paulo, Brasil
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Artist in
residence
Fenda
Residence
02

Trevo

Period: May 2021 - August 2021
Outcome: EP & Short film
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Nascido em Simões Filho e radicado em Salvador, Trevo sempre nutriu uma relação com a música que andasse lado a lado com a escrita. Seu talento com as palavras encontra a sua habilidade de composição e criação de harmonias, ferramentas das quais Trevo se mune para refletir sobre a existência, a individualidade e a espiritualidade do povo negro.

De 2016 a 2019 Trevo integrou o grupo de rap baiano Underismo. Seu primeiro álbum solo chegou em 2018, quando tinha 19 anos. “Nada de Novo Sob o Sol” arrancou elogios emocionados Brasil afora, tanto da indústria quanto do público fiel que o acompanha. E por mais que seu principal lançamento esteja estruturado no rap, não dá pra dizer que sua identidade como artista se limita ao gênero. Seu último EP “Toda Vida”, por exemplo, provoca o encontro do trap com o pagodão baiano. O talento de Trevo flui entre vários ritmos com uma força gigante e poética afiada. Justamente porque ele é um dos principais letristas de sua geração e essa acaba sendo sua maior assinatura. Seus versos documentam suas vivências e refletem os dilemas específicos que atravessam um jovem preto periférico vivendo no Brasil.

Na Fenda, Trevo se propôs a abraçar o aspecto multidisciplinar da residência seguindo fiel a seus princípios criativos: celebrar música brasileira, mas acrescentar uma nova página a essa história; contrariar esteriótipos ao seu redor e abraçar o desafio da experimentação; tecer uma nova rede, mas fortalecer os seus. Foram três meses inicialmente previstos para o trabalho, contados a partir de maio de 2021.

Como compositor inquieto que é, Trevo sempre esteve carregado de demos e ideias, sempre rascunhando algum verso, hora ou outra mostrando novas coisas para amigos ao redor. Depois de seu EP “Toda Vida” saiu, a primeira coisa que mostrou a Hick foi o que viria a ser “A Mulher da Ladeira”. A faixa, número 4 do EP que Trevo lançou posteriormente pela Fenda, foi a semente para a residência artística. Justamente pela característica narrativa da faixa, pela forma como se apresenta um conto fascinante e enigmático, Hick sugeriu a Trevo que ao invés de só produzir um novo som durante o período na Fenda, ele também trabalhasse num storytelling visual daquilo que viria a criar. Trevo se animou com a ideia e, a partir de então, todo o processo de criação das músicas ganhou uma camada de raciocínio imagético também. Assim a ideia de um EP visual começou a surgir.

As outras 4 músicas que viriam a compôr o EP final foram nascendo dia após dia na residência, mesclando-se a versos e ideias que Trevo acumulava de outros tempos. A medida que estava certo de uma letra, ele convocava amigos para apresentar, discutir e colaborar. Hick plugou alguns produtores parceiros para desenvolver os beats e trazer uma nova atmosfera para as canções que Trevo começava a moldar. Várias foram as sessões de brainstorm e gravação na Fenda e assim começaram a se desenhar as participações musicais do trabalho. Joca, Luiza de Alexandre, Yaminah Garcia, Layla Afrika e JTK foram algumas delas.

Ao mesmo tempo em que a gravação do EP acontecia, o roteiro para o curta-metragem que o acompanharia também ganhava corpo. Em determinado momento, quando os visuais do EP começaram a ficar mais latentes, o roteiro começou a determinar a finalização das faixas. Trevo é quem concebeu a história e escreveu todas as cenas, com alguns pitacos de Hick para trazer mais impacto visual à peça. Além disso, ele também traçou os perfis dos personagens e trabalhou direto com os protagonistas, Moura e Emira, amigos de Salvador de longa data. Hick propôs alguns caminhos estéticos a partir de algumas imersões cinematográficas, além de montar a equipe e se encarregar da viabilização da produção. Água de Flor, EP e filme, se tornava cada dia mais real.

“Minhas inspirações partem das coisas que gritam dentro de mim. Elas precisam sair e então eu escrevo.[…] Não é difícil construir uma história se você tá falando de períodos da sua vida, se a inspiração que lhe bate são vivências. Então, iniciei um roteiro com o Hick, ele me orientou como viabilizar, trazendo ideias junto… E a finalização das faixas é que partiu do roteiro. Mas, na verdade, eu já tinha alguns esboços antes em paralelo, quando percebi que as músicas se encaixavam em formato de história (porque era a minha história) e o roteiro partiu daí. O fechamento do EP, os feats, tudo saiu após o roteiro”, disse Trevo em entrevista à NOIZE.

As diárias de captação do filme aconteceram nos dias 12 e 13 de junho, um pouco mais de um mês depois de Trevo ter iniciado a residência.

O processo de montagem, colorização e finalização do filme Água de Flor, que aconteceu simultâneo à mixagem e masterização das faixas, levou um mês para acontecer. Enquanto isso, Trevo, Hick e Lys (produtora executiva/Ori Records) desenhavam a estratégia de lançamento do EP visual. O primeiro ato foi uma exibição em Salvador, antes do filme ganhar as redes. As sessões aconteceram no espaço Kmugerē no dia 5 de agosto de 2021.
“Que eu me lembre, no meu tempo de menino, caruru de sete meninos nunca começava faltando um menino. Está consagrado o filme “Água de flor”, era o que eu queria, apresentar pra fonte de energia e de axé [Salvador, Bahia] que me proporcionou criar e realizar essa obra. O presente não é meu é do povo, o dom não é meu é de Deus, a gente entrega pra quem precisa e recebe em troca a benção da satisfação e a força vital, eu sou só um veículo. O filme foi exibido no espaço Kmugerē no Pelourinho. Água de Flor vem pra lavar e curar o povo preto do banzo, esse filme irá te fazer olhar pra você com outros olhos, com autonomia. Vai fazer você, homem preto e mulher preta, refletir sobre o poder que nós temos de tratar nossas próprias feridas”, disse Trevo na ocasião do lançamento.

1. Aquela Cantiga (part. Yaminah Garcia)
2. O que Serei (part. Joca e Luiza de Alexandre)
3. Dona Flor (part. Luiza de Alexandre, Yaminah Garcia e Layla Afrika)
4. A Mulher da Ladeira
5. Hora da Estrela

Cinco faixas, cinco capítulos. Com produção musical de Marcelo Gerab, Rico Jorge e Pivaratu e identidade visual assinada por Martinica.space, o EP ganha as redes à meia-noite do dia 27 de agosto de 2021.

Água de Flor, o filme, estreia no Youtube no dia seguinte.

“Água de Flor é o desaguar de todo um povo em corrente, são tempos e tempos para que todo o conhecimento e o manejo dos elementos se propague como ferramenta de libertação. Materializada nesse filme está a energia que vem da rua, aquela que transforma, que conflita e que resolve. Reconheço Água de Flor como um presente que ganhei das encruzilhadas potencializado por histórias de pessoas que a mesma juntou na realização desse trabalho. Nasceu para o mundo quando antes fluía em cruzamentos de ruas, depois da meia-noite e antes seis. Se hoje vive, é porque alguém permitiu que vivesse, eu acessei”, escreve Trevo na ocasião do lançamento.

“Para nós homens, mulheres e corpos pretes de periferia, que precisamos nos dedicar a milhares de corres antes do sonho, do corre principal que desejamos, uma residência artística tem um valor inimaginável. Só o fato de você estar ali para se dedicar somente à criação já é uma coisa valiosa. Geralmente, a gente tem que estar fazendo corres de trabalho, cuidando de filhos, de casa, da família… e não tem toda essa disponibilidade e cuidado para fazer a sua obra.

Dentro da residência artística, eu percebi que posso fazer o que eu quiser, sabe? Moldar da forma que eu quero, levar o tempo que eu preciso para construir uma obra. Foi um novo horizonte que se abriu. Não só o fato de correr para fazer algo e entregar, mas fazer de verdade aquilo, sabe? E isso não se expande apenas na parte criativa. Eu percebi também que dá para eu estudar o que eu quiser: teatro, canto, teoria musical… basta ter alguém que financie, porque isso, para nós, não vem de berço; mas vontade e disposição para aprender, a gente tem – e muita”, disse Trevo em entrevista à NOIZE sobre a experiência de residência na Fenda.

Elenco:

Emira Sophia como Emira
Moura como Moura
Yaminah Garcia como Oxum
Iráyó Swahili como Oxossi
Trevo como Trevo
Thamires Cordeiro como A Mulher da Ladeira
Bum Quattrucci como Policial 1
Jiuzeppe como Policial 2
Kendrick Andrade como Trevinho

Direção de fotografia: Vinícius de Andrade e Naelson de Castro
Direção de Arte: Felipa Damasco
Figurino: Gabriel Carneiro
Beleza: Camila de Alexandre e Suy Abreu
Casting: Trevo e Jiuzeppe
Assistente de direção: Ana Sano
Produção de set: Luiz Anjos
Produção local: João Perrone
Câmera: Vinícius de Andrade

1º assistente de câmera (locação): Jefferson Guimarães
2º assistente de câmera (locação): Marcelo Simões
1º assistente de câmera (estúdio): Martina Quezado
2º assistente de câmera (estúdio): Gabriel Sassano
Câmera submersa: Gael Sonkin
Assistentes de iluminação: Gianfranco Vacani e Marcelo Cucatti
Assistente de arte: Teodora Oshima
Pinturas: Luiza de Alexandre
Assistente de figurino: Thamires Cordeiro
Cabelo Emira: Mábatha Falloundiaye
Produção de moda: Cristina Fernandes

Agradecimentos: Lemoriô, Atelier LadyyBrownn, Acervo Yumi, Nart Studio, PressPass e Carneiro Studio
Montagem: Hick Duarte e Trevo
Cor: Hick Duarte
Storyboard: Bianca Sartoretto
Design: Martinica.space

Realização: Fenda
Apoio: Thinkers MGT e Seiva

Trevo x Fenda © 2021